quarta-feira, 16 de setembro de 2009

O Cachorro Seresteiro

Ah! As serestas! Aqueles que viveram na mesma época delas, devem lembrar com saudades das mesmas.
Talvez por falta de assuntos, ou as limitações dos nossos pais, não tínhamos muito assuntos para conversar. Daí aproveitavam uma letra que falasse tudo aquilo que eles queriam dizer ás suas amadas e a melodia bem nostálgica, aí nascia as serenatas, principalmente em noites de luar.

Lembro-me, de uma seresta feita para mim a música era "A Deusa da minha rua", bem tocada pelos seresteiros da época. Era uma noite de lua cheia, eles chegaram; Um no violão, outro no Sax e um cantor apaixonado. Os primeiros acordes não tinha coisa mais linda, depois o seresteiro cantou com toda paixão a sua música, quando foi a vez do Sax o cachorro achou de fazer dueto com ele. Mais os uivos eram tão altos, parecendo mais com um lobo. Um momento tão lindo, transformar-se numa coisa cômica, meu pai ria tanto e eu morrendo de raiva, com vontade de dar umas tapas no cachorro, chegou até uma certa altura que não deu mais pra continuar, eles desistiram dizendo: " Rapaz, que mau agouro, estamos fritos, vamos embora."

O Sax é um instrumento que mais admiro, mas todas as vezes que escuto em solo, não deixo de recordar a minha seresta frustrada.
A Deusa da minha rua
música de Newton Teixeira
Letra de Jorge Faraj







Andanças

Rio de Janeiro
Fui mais uma vez rever essa cidade tão linda que dispensa adjetivos.

Levei a minha filha comigo, ela não tinha tido oportunidade de conhecê-la, somente a conhecia de passagem. Pena que foram pouco os dias, somente três, viajamos na quarta-feira de manhã e regressamos no sábado a noite. Não tivemos tempo de conhecer a parte cultural da cidade, somente os pontos turísticos de sempre. Foi um passeio muito agradável, uma quebra de rotina meu e dela, um cansaço diferente só físico.

Quando me refiro à minha filha, tendo outras, é por ela morar comigo, é o meu anjo da guarda, devo a ela muito: atenção, carinho e respeito. Ela me faz muito feliz, foi um presente de Deus em minha vida, não que os outros sejam diferentes são ótimos, mas ela é o meu cirineu, ambos nos ajudamos nos momentos difíceis das nossas vidas, acho mesmo que seja um amor de outras vidas por termos tanta afinidade.

Às vezes eu brinco com ela, dizendo que ela está me botando manha, ela sorri e diz: "Não mãe, só estou sendo gentil com a senhora." Muita paz!









Meu anjo barroco

terça-feira, 15 de setembro de 2009

sexta-feira, 4 de setembro de 2009

Raízes II


É muito difícil falar dela, a minha mãe. Eu a amava quando ela estava alegre, ela tinha muito senso de humor que me fazia sorrir, quando estava de mau humor saísse de perto, sua maior qualidade era o amor ao trabalho, o que nós não gostávamos era o ciúme possessivo que passou das filhas às netas.

Veio de uma família humilde, lutaram com muita dificuldade para sobreviver com uma família composta por doze filhos, cedo arrumou os seus poucos pertences e veio para a capital tentar um emprego. Não adiantou a chantagem dos irmãos, primeiro com a mãe viúva e depois o que a família e os vizinhos iriam dizer; veio assim mesmo, chegando a cidade para sossêgo da família hospedou-se na casa de uma tia, Tinha contra ela a idade, era de menor e pouca instrução, a idade até que não atrapalhou, era alta e bem proporcionada e foi à luta.

Depois de muito procurar, encontrou uma vaga no manicômio da cidade, a diretora à recebeu bem, perguntou se ela aceitava o trabalho que era muito, e as condições do hospital eram horríveis " Se hoje ainda é assim, imagine muitos anos atrás." Minha mãe o comparava ao um inferno, onde tinha os gritos e os ranger de dentes.

Assim mesmo depois das intruções da diretora que simpatizou com ela, aprendeu tudo rápido o que deveria ser feito, cuidar das pacientes: Desde o banho quente que fazia parte do tratamento, injeção, curativos, banho de sol com os pacientes que estavam melhores.

Para compensar de certa forma o sofrimento que ela assistia no dia-a-dia, amava as coisas que a vida podia oferecer.

Uma de suas irmãs mais velhas tinha feito um bom casamento, com o dono da padaria local, ele músico, organizou a banda da cidade. Sempre aos sábados havia um baile, ela aproveitava a sua folga e voltava à cidadezinha e dançava até a madrugada tomava vinho, cantava e fumava em público; escandalizando a pequena cidade " Era uma mulher à frente do seu tempo".

Os irmãos não falavam com ela, só a mãe e as irmãs. Elas muito católicas continuavam a orar por ela. A mãe só sossegou quando um dos filhos veio à capital e conseguiu alugar uma casa, para ela ficar perto da filha.

O meu pai entra em cena quando foi fazer uma pequena reforma e a pintura do prédio, dando um aspecto melhor à aquela casa de tanto sofrimento.

Aconteceu um caso bizarro, correu um boato que chegou ao conhecimento da minha avó, que a minha mãe tinha enlouquecido, antigamente dizia-se que quem trabalhava com doido adoecia também, a minha avó mandou o irmão mais novo averiguar, chegando ao asilo ele avistou a minha mãe, ela estava despenteada devido a forte ventania, ela surpresa com a visita aquelas horas, correu ao encontro dele, ele saiu correndo, quanto mais ela corria, ele corria mais, chegando em casa disse é verdade mãe ela quase me pegou. Precisou a minha mãe ir lá mostrar ao pessoal que ela estava bem, assim mesmo todos desconfiados, sem querer acreditar.

Casou-se com meu pai, como manda o figurino de véu e Capela, ela continuou trabalhando em casa, para sossêgo da minha avó e da família. Tiveram quatro filhos, dois casais, ela tinha preferência pelos filhos homens, ela afirmava claramente a preferência. Eu e minha mãe não tinhámos muita afinidade, vivíamos ás turras, eu não era de brigar e ficava calada, talvez com medo da agressão, mais dentro de mim, tinham pensamentos horríveis em relação à ela, preferindo mais o meu pai, vivíamos guerriando, eu calada e ela esbravejando para ver a minha reação. Após muitos anos,quando meu pai faleceu, ela passou a conviver com as duas filhas!Um tempo morando com a minha irmã e comigo, sendo que na nossa casa ela ficava mais tempo, devido aos netos que ela adorava a companhia deles. Precisava minha irmã vir buscá-la, às vezes inventava que estava doente e que precisava ir ao médico retardando assim a sua volta.

Quando eu vi meus filhos à amarem tanto, um sentimento de culpa batia, achando que se eu tivesse aceitado como ela era, teria sido melhor a convivência, mais tarde no início da doença a minha irmã atendendo aos seus pedidos veio deixá-la, ela queria está comigo e com seus netos, ainda viveu alguns anos, foi a oportunidade que me foi dada, para resgatar um pouco dos meus débitos para com ela.

Ela me amou ao seu modo!Se nunca me disse ou me beijou foi por vergonha!A educação que recebeu foi muito rigida,mas guardava as coisas bonitas e boas sempre para mim,e "ninguém mexia que não era doido!"

É preciso muita paciência e muito amor para cuidar de uma pessoa com o mal de Alzheimer, só quem cuida é que sabe como é preciso.


Perdoa-me mãe, por não aceitá-la como a senhora era e sim como eu gostaria que a senhora fosse! Fique em paz!

Instantes


Se eu pudesse novamente viver a minha vida, na próxima trataria de cometer mais erros.Não tentaria ser tão perfeito, relaxaria mais, seria mais tolo do que tenho sido.Na verdade, bem poucas coisas levaria a sério.Seria menos higiênico. Correria mais riscos, viajaria mais, contemplaria mais entardeceres,subiria mais montanhas, nadaria mais rios.Iria a mais lugares onde nunca fui, tomaria mais sorvetes e menos lentilha, teria mais problemas reais e menos problemas imaginários.Eu fui uma dessas pessoas que viveu sensata e profundamente cada minuto de sua vida;claro que tive momentos de alegria.Mas se eu pudesse voltar a viver trataria somente de ter bons momentos.Porque se não sabem, disso é feita a vida, só de momentos;não percam o agora.Eu era um daqueles que nunca ia a parte alguma sem um termômetro, uma bolsa de água quente, um guarda-chuva e um pára-quedas e, se voltasse a viver, viajaria mais leve.Se eu pudesse voltar a viver, começaria a andar descalço no começo da primavera e continuaria assim até o fim do outono.Daria mais voltas na minha rua, contemplaria mais amanheceres e brincaria com mais crianças, se tivesse outra vez uma vida pela frente.Mas, já viram, tenho 85 anos e estou morrendo...'


Eustáquio Gomes - Poeta argentino