sábado, 29 de agosto de 2015

Não estejas longe de mim um só dia!

Imagem do Google

Não estejas longe de mim um só dia,porque como,
porque,não sei dizê-lo,é comprido o dia,
e te estarei esperando como nas estações
quando em alguma parte dormitaram os trens.

Não te vás por uma hora porque então

nessa hora se juntam as gotas do desvelo
e talvez toda a fumaça que anda buscando casa
venha matar ainda meu coração perdido.

Ai que não se quebrante tua silhueta na areia,

ai que não voem tuas pálpebras na ausência:
não te vás por um minuto,bem-amado,

porque nesse minuto terás ido tão longe

que eu cruzarei toda a terra perguntando
se voltarás ou se me deixarás morrendo.

(Do livro "Cem Sonetos de Amor"- Pablo Neruda)

Abraços Celina

sábado, 22 de agosto de 2015

NOS BOSQUES


 
Perdido, cortei um ramo escuro
 e aos lábios, sedento, levantei seu sussurro: 
era talvez a voz da chuva chorando,
 um sino fendido ou um coração cortado.

Algo que de tão longe me parecia
 oculto gravemente, coberto pela terra,
 um grito ensurdecido por imensos outonos,
pela entreaberta e úmida escuridão das folhas.

Por ali, despertando dos sonhos do bosque,
o ramo de avelã cantou sob minha boca
e seu vagante olor subiu por meu critério

como se buscassem de repente as raízes
que abandonei, a terra perdida com minha infância,
e me detive ferido pelo aroma errante.

Um trecho do livro : Cem Sonetos de amor, Pablo Neruda.