segunda-feira, 4 de janeiro de 2010

Fogo-fátuo


Ele estava quase sempre em diversos lugares, no sítio da minha tia, aparecia sempre no pé de Mamoeiro, na beira do rio e acima das plantas. Da porta da cozinha nós o avistávamos, com aquele olho azul parecendo nos observar.
A minha tia estava tão acostumada que ficava indiferente, à noite sempre ia buscar um pote d'água para se alguém precisasse a noite, aí eu pensava porque não apanhar a água durante o dia, talvez por ser uma pessoa muito ocupada, a única ajuda que ela dispunha era a roupa que era lavada no rio por uma moça que vivia disso, o resto era ela que fazia e ainda arranjava tempo para costurar para os filhos.
A noite era o tempo que ela tinha para buscar a água para beber, para o gasto da casa era de uma jarra grande que o rapaz que a ajudava cuidar dos animais, se encarregava de enchê-la, quando eu não estava lá, ela ia sozinha, a única coisa que tinha medo era qualquer assunto que se referisse ao fim do mundo, aí sim, ela chegava a perder o sono só de pensar.
Eu a acompanhava só Deus sabe o que representava para mim aquele sacrifício, eu ia atrás quase colada a ela, a água era tirada de um poço de águas cristalinas no meio dos bambus, não precisava dizer que a escuridão era total, o candieiro que ela levava dava apenas uma claridade muito pouca, enquanto ela apanhava à água eu ficava olhando ao redor em plena escuridão, agora quando ela o avistava ela me prevenia, "fique quieta e não olhe de lado que ele está lá, qualquer movimento ele poderia vir em nossa direção".
Com o seu ruído característico o povo do interior estava acostumado a conviver com o fenômeno, o meu tio quando ia pescar, se ele aparecesse meu tio pegava o seu material de pesca e voltava, segundo ele naquela noite a pescaria não rendia nada.
Não sei o que o pessoal pensavam, sei que tinham o maior respeito, em cada região eram conhecidos por nomes diferentes, na região da minha tia era pelo fogo do batatão, não sei explicar porque o nome.
Eu gostava muito de passar as férias lá, só vindo para a cidade nas festas de fim de ano, as minhas primas ficavam admiradas por eu gostar tanto de lá, ela as vezes perguntavam se eu gostaria de trocar, uma palavra, elas detestavam tudo aquilo, nem banho de rio elas tomavam, enquanto eu aproveitava bem, subia em árvores, tomava banho de rio, foi com os meus primos que aprendi a nadar e a andar de cavalos, eu só estranhava a falta de luz elétrica e não ter pão, isto a minha tia procurava suprir fazendo fornadas de bolos e sequilhos de polvilho, a noite o passatempo era contar histórias tenebrosas, sentados todos nos bancos rústicos do alpendre, parecia até concurso de quem contaria a história mais assombrosa, ainda bem que quando caía na rede a noite de cansaço de tanta estripulia, adormecia em seguida, para no outro dia recomeçar tudo outra vez.
Pegava carona nos carros de bois até a entrada da mata, adorava tudo aquilo o cheiro do mato os cantos dos pássaros, faziam até esquecer o olho azul que nos espreitava a noite, acima do Mamoeiro, era só evitar de olhar lá fora na escuridão da noite.
Era a minha passárgada.
Mais tarde eu aprendi a explicação científica, aquilo que nos deixava com tanto medo, faço aqui uma ressalva, porque ele do lugar de se apagar vinha pra cima da gente e o barulho?
O deslocamento de ar é a resposta.
E quando mudava de lugar a velocidade que ia, eu hein?
"Fogo-fátuo no interior do Brasil chamado de fogo tolo, fogo corredor é uma luz azulada que pode ser avistada em cemitérios, brejos e e.t.c É inflamação espontânea de gás metano, resultantes de decomposição de seres vivos, plantas, animais típicos dos ambientes."
fonte: Wikipédia

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