domingo, 7 de novembro de 2010

Comemoração as Cem postagens!

Fogo-fátuo.

Ele estava quase sempre em diversos lugares, no sítio da minha tia, aparecia sempre no pé de mamoeiro, na beira do rio e acima das plantas. Da porta da cozinha nós o avistávamos, com aquele olho azul parecendo nos observar.

A minha tia estava tão acostumada que ficava indiferente, à noite sempre ia buscar um pote d'água para acaso alguém precisasse, aí eu pensava -porque não apanhar a água durante o dia?! Talvez por ser uma pessoa muito ocupada, a única ajuda que ela dispunha era a roupa que era lavada no rio por uma moça, o resto era ela que fazia e ainda arranjava tempo para costurar para os filhos.

A noite era o tempo que ela tinha para buscar a água para beber, para o gasto da casa era de uma jarra grande que o rapaz que a ajudava cuidar dos animais se encarregava de enchê-la. Quando eu não estava lá, ela ia sozinha, a única coisa que ela sentia medo era qualquer assunto que se referisse ao fim do mundo, aí sim, ela chegava a perder o sono só de pensar!

Eu a acompanhava, só Deus sabe o que representava para mim aquele sacrifício, eu ia atrás quase colada a ela, a água era tirada de um poço de águas cristalinas no meio dos bambus, não precisava dizer que a escuridão era total, o candeeiro que ela levava dava apenas uma claridade muito pouca, enquanto ela apanhava a água eu ficava olhando ao redor em plena escuridão, quando ela o avistava ela me prevenia, "fique quieta e não olhe de lado que ele está lá, qualquer movimento ele poder vir em nossa direção".

Com o seu ruído característico o povo do interior estava acostumado a conviver com o fenômeno, o meu tio quando ia pescar, se ele aparecesse meu tio pegava o seu material de pesca e voltava, segundo ele naquela noite a pescaria não rendia nada.

Não sei o que o pessoal pensava, sei que tinham o maior respeito, em cada região era conhecido por nomes diferentes, na região da minha tia era “fogo do batatão” ou “fogo da comadre e do compadre” e por ai vai, não sei explicar porque dos nomes.

Eu gostava muito de passar as férias no interior, só vinha para a cidade nas festas de fim de ano, as minhas primas ficavam admiradas por eu gostar tanto , elas às vezes perguntavam se eu não gostaria de trocar de lugar! Elas detestavam tudo aquilo, nem banho de rio elas tomavam, enquanto eu aproveitava bem, subia em árvores, tomava banho de rio.

Foi com os meus primos que aprendi a nadar e a andar de cavalos, eu só estranhava a falta de luz elétrica e não ter pão, isto a minha tia procurava suprir fazendo fornadas de bolos e sequilhos de polvilho.

À noite o passatempo era contar histórias tenebrosas, sentados todos nos bancos rústicos do alpendre, parecia até concurso de quem contasse a história mais assombrosa. Ainda bem que quando caía na rede à noite cansada de tanta estripulia, adormecia em seguida, para no outro dia recomeçar tudo outra vez.

Pegava carona nos carros de bois até a entrada da mata, adorava tudo aquilo o cheiro do mato os cantos dos pássaros, faziam até esquecer o olho azul que nos espreitava a noite, acima do mamoeiro, era só evitar olhar lá fora na escuridão da noite.

Era a minha pasárgada.

Mais tarde eu aprendi a explicação científica, aquilo que nos deixava com tanto medo, faço aqui uma ressalva, porque ele invés de se apagar vinha pra cima da gente? e o barulho?

O deslocamento de ar é a resposta.

E quando mudava de lugar a velocidade que ia, eu hein?!

Definição da Wikipédia:

“Fogo-fátuo no interior do Brasil chamado de fogo tolo, fogo corredor é uma luz azulada que pode ser avistada em cemitérios, brejos e etc. É inflamação espontânea de gás metano, resultantes de decomposição de seres vivos, plantas, animais típicos dos ambientes.”

Paz Celina

15 comentários:

chica disse...

Parabéns pela postagem n.100!

Que venham muitas outras mais!

E essa foi linda!

beijos,tudo de bom,chica

ONG ALERTA disse...

Mais uma conquista, beijo Lisette.

Caca disse...

Quando minha primeira filha nasceu eu morei numa casa durante um ano e pouquinho que fazia divisa com o muro de um cemitério. Era muito comum, mas eu já não temia pois sabia do que se tratava. No entanto, na infância isso metia muito medo mesmo. Parabéns, sempre, Celina. E que venham mais centos e centos de textos maravilhosos. Meu abraço. paz e bem.

ONG ALERTA disse...

Beijo e muita postagem neste ano que virá, beijo Lisette.

Anne Lieri disse...

Celina,parabéns pela centésima postagem!Suas histórias de vida são deliciosas de ler!Eu adoro!Não apareci antes,pois perdi meu blog e agora estou de blog novo.Um grande beijo!

Flor da Vida (Suelzy Quinta) disse...

Querida amiga, parabéns pelos cem belos textos aqui postados! Que venham milhares e milhares deles! Agora vou falar desse maravilhoso texto... Nossa amiga! Amei, mas amei muito o teu conto! Sempre morei em fazenda e você me fez recordar meus melhores momentos dos tempos de criança... Toda noite uma historia, e cada uma mais horripilante que a outra,rsr... Qualquer dia desses vou contar algumas dessas passagens também, você me animou! Amiga querida e por mim já muito amada, fica com Deus e com meu carinho... Bjsss

Anônimo disse...

Olá amiga!
Já SAIU OU VAI SAir a postagem sobre o livro do Cacá? Estou voltando de lá e não achei nada...
Bjsssssss

Anônimo disse...

Oi Celina,
Amei o relato, e já cheguei a ver ao pé de um morro.
Seria interessante manter o sentido folclórico da aparição...
Um belo texto, e aguardo o próximo.
Um fraternal abraço, bjs.

Toninho disse...

Que lindo Celina,creio e aceito seus bons olhos, pois os sei sobre mim.Viajei nesta 100,dei uma volta no inicio dos anos 60, quando tambem passava todas as ferias na casa de minha vó e vivia todos os temores de lugar de sem luz.Os contos na beira do fogão de lenha,e eu menino adorava tudo aquilo.Gostei de fazer esta viagem de carona na sua inspiração.O tempo anda louco por aqui, mas vamos correndo para ver todos os amigos que são estimados e amados assim como voce.Belo fim de semana e toda paz e luz ai.Beijo no coração.

Pelos caminhos da vida. disse...

Fim de semana iluminado para vc Celina.

beijooo.

Maria Rodrigues disse...

Querida amiga, parabéns pela sua centésima postagem, muitas se seguirão tenho a certeza.
É sempre um prazer enorme vir visitá-la, pois o seu cantinho é divinal.
Tenha um fim de semana maravilhoso
beijinhos
Maria

Caca disse...

Oi, Celina! Tá tudo bem? Você não apareceu ontem ou hoje, fiquei preocupado. Desejo-lhe um ótimo fim de semana. Abraços. Paz e bem.

Graça Lacerda disse...

Bela postagem, Celina!

Estou aqui para convidá-la a vir conhecer um pouquinho mais do Poeta Antônio (Toni Lídio) do blog Vozes de Minha Alma.
A homenagem que fiz a ele está em meu blog:

botoesmadreperola.blogspot.com

Um beijo!!
Te espero lá.
Com carinho,
Abraços e laços!!

Celina disse...

CACÁ VÁ AO SEU E-MAIL E VEJA O QUE ESTÁ LÁ, SAIÚ CACÁ ATÉ QUE ENFIM! CELINA ABRÇOS

Sonica disse...

Olá Celina!
Acabei de te conhecer no blog da Flávia, certeza que estarei sempre aqui!
Parabéns pela postagem n. 100, e como é gostoso ler seus textos!
Aguardo uma visitinha sua,
Com carinho,