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Este foi um caso difícil para nós, precisou da ajuda de todos da família. O meu marido começou a receber cartas da sua irmã onde reclamava da conduta de seu filho mais velho, que após o falecimento do seu pai, a primeira coisa que ele fez foi pegar todo material escolar e destruir, não antes de dizer para sua mãe que a pessoa que ele temia já não existia e ninguém iria obrigá-lo a fazer uma coisa que ele não gostava que era estudar.
Da pra imaginar, ele passava o tempo todo sem fazer nada, dormia o dia todo e a noite saia com uma turma da pesada, até bebida alcoólica estava usando.
A primeira reação do meu marido quando sua irmã pediu para aceita-lo em nossa casa foi dizer que não. Ele estava temeroso por mim, pois seria mais um adolescente para eu tomar conta, os meus davam trabalho sim, mais nada que eu não pudesse controlar.
Ao ler a carta ele olhou para mim como para me perguntar o que fazer, eu respondi que não custava nada tentar, se não desse certo, ao menos tentamos. A carta foi enviada informando que ele podia vir.
Ele chegou numa tarde de sábado onde a família toda estava em casa reunida, antes dele chegar todos foram informados que deveriam tratar muito bem o novo hospede.
Ao chegar observamos que ele era bastante magro, alto, adolescente ainda, mais o que chamava atenção eram os seus olhos assustados. Imaginem uma pessoa saindo do interior e se mudando para a capital para a casa de parentes que mal conhecia?!Trazia no semblante um desencanto de um jovem sem perspectiva, surpreso com a brusca mudança em sua vida. Trouxe uma pequena mala com seus poucos pertences e muita duvida no coração e revolta por estar naquele ambiente estranho com pessoas que ele não conhecia e que não representavam nada para ele.
Servi um lanche, ele mal tocou e fui mostrar sua cama, e no caminho eu falei que ele tinha toda liberdade de voltar para sua casa se quisesse, mais eu ficaria muito feliz em tê-lo entre nos, ele não respondeu nada.
Passaram-se alguns dias, ele continuava desconfiado e a única palavra que dizia era ao pedir a benção ao seu tio.
Deixava-o a vontade, na hora do almoço ele só chegava à mesa após todos terem terminado a refeição, apesar de todos os dias eu chama-lo para almoçar. Depois de uns quinze dias eu falei com ele para almoçar conosco, pois facilitaria a moça que nos ajudava que precisava cuidar da louça, deste dia em diante ele passou a sentar a mesa, mais continuava calado.
Depois de quase um mês e meio, com muito jeito eu perguntei se ele não sentia vontade de voltar a estudar, o que ele respondeu positivamente, falou que estava pensando nisso. Um dos meus filhos o matriculou em um curso preparatório.
O gelo foi quebrado no seu primeiro aniversário, nos mês de outubro, minhas filhas prepararam uma surpresa para ele, fizeram bolo confeitado, com direito a balõezinhos de festa e tudo. Ao chegar apagamos as luzes e cantamos parabéns para ele, após este dia ele mudou, passou a conversar com todos.
Depois ele fez um teste para o SESC e cursou o técnico em eletricidade, neste meio tempo já tinha arranjado um emprego numa loja de venda de material elétrico, e sempre os clientes o contratavam para executar os serviços de eletricidade. Passou a ajudar sua mãe financeiramente, dando assistência completa a ela e também dava conselhos e orientações aos seus irmãos, tinha o maior moral, todos os respeitavam.
Passava as suas férias na sua casa, chegava cheio de novidades e sempre contava de uma forma bem divertida suas aventuras. Todos nos gostávamos muito de escuta-lo.
Quando sua mãe adoeceu e estava nas ultimas, ele pediu uma licença ao seu patrão e foi ficar junto dela, o sonho dele era voltar para sua antiga casa, mais ele viu que não se acostumaria mais com a vida de cidade do interior. Após o falecimento de sua mãe ele regressou e hoje está casado, é um bom marido.
Uma coisa interessante ele nunca pronunciou o meu nome, sempre se referia aos meus filhos como “a tua mãe”. Esta semana mesmo minha filha encontrou com ele e ao perguntar por mim e mandar lembranças ele falou “E tua mãe como esta? Lembranças pra ela”.
Paz Celina